O trabalho da Comissão de Implantação
Em 1970, foi aprovada pelo governo militar o plano de conclusão da primeira etapa da Cidade Universitária, a fim de que estivesse pronta a tempo das comemorações dos 150 anos da Proclamação da Independência do Brasil. Entre as ações prioritárias, estava a retomada das obras do hospital, que ocorreu em 22 de janeiro de 1971.
Até o final do ano seguinte, com recursos provenientes de diferentes fontes, foram concluídos 44% por cento do projeto do hospital. Depois, porém, pelas verbas escassas, sofreu nova interrupção. A essa altura, muita gente questionava o projeto e sua viabilidade, apontando, por exemplo, o desgaste sofrido pelo prédio por causa das longas interrupções em suas obras.
Quando Hélio Fraga assumiu a reitoria da Universidade, em 1973, o cenário começou a mudar. Assumindo a construção do HU como prioridade, ele reorganizou a Comissão de Implantação em 1974 e deu prosseguimento à concorrência pública para contratação de empresa especializada para o planejamento técnico e operacional do hospital.
Quem venceu foi um consórcio norte-americano/brasileiro comandado pela Arthur D. Little International (ADL), que na mesma época também implementava dois hospitais de ensino em São Paulo. De 1975 a 1977, dezenas de técnicos estrangeiros estiveram no Brasil, atuando em conjunto com especialistas brasileiros para criar um projeto inovador e adequado às necessidades locais, incluindo, por exemplo, a revisão das plantas físicas do projeto original, os equipamentos necessários ao bom funcionamento dos diversos setores do hospital, os programas de computação para o setor administrativo do HU e 38 manuais que descreviam as rotinas a serem desenvolvidas.
O trabalho coordenado da Comissão de Implantação com a ADL permitiu o planejamento minucioso do novo hospital universitário, começando pela definição da filosofia e dos objetivos da instituição – contribuir para a melhoria do atendimento em saúde na área onde o HU está localizado; operando como referência de nível terciário, em estreita relação com o sistema público de saúde dessa área; servir de campo de treinamento para o ensino de graduação de diferentes profissões de saúde; propiciar a realização de cursos de pós-graduação, sobretudo residência; servir à educação permanente dos profissionais de saúde; treinar pessoal de nível médio e técnico; desenvolver atividades de pesquisa; e contribuir para a formação da equipe de saúde, fomentando o trabalho conjunto e o respeito às normas éticas do exercício profissional.
O processo resultou em um projeto inovador, atento às necessidades de seu corpo de funcionários, e que combinava ensino médico e assistência em saúde, levados a cabo por equipes multidisciplinares.
A parte de planejamento e execução de obras também teve sua velocidade acelerada nesse período. Realizaram-se, de 1974 a 1978, obras equivalentes a 43% da área construída do hospital – o equivalente ao que havia sido completado nos 20 anos anteriores.
Os estudos de planejamento começaram pela revisão das plantas físicas originais, que sofreram diversas modificações: a inclusão de um centro de diagnóstico que ocupou todo o terceiro andar do hospital; a construção do setor de hemoterapia, que mais tarde seria um dos mais completos e modernos do país; a instalação do Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias no quinto andar; a conclusão do nono pavimento, para atividades didáticas; a reestruturação do centro cirúrgico, que ganhou novas salas e instalações mais apropriadas visando à segurança sanitária e circulação de materiais; entre outras.
Optou-se, também, pela não conclusão de uma ala do hospital, por falta de verbas para equipá-la com a infraestrutura necessária ao funcionamento. A Comissão receava, porém, que sua demolição, naquela época, tivesse um impacto negativo sobre a retomada das obras do hospital – como justificar iniciar uma obra com um grande gasto para demolição de algo que nem chegou a ser acabado? A ala foi, então, abandonada e permaneceu assim por anos, ficando conhecida como “perna seca”, até sua implosão em dezembro de 2010.